terça-feira, 24 de julho de 2012

Memórias de um Sargento de Milícias - Manuel Antonio de Almeida

Um pequeno estudo!


Manuel Antônio de Almeida - Dados biográficos
Nasceu no Rio de Janeiro em 1831, filho de um modesto casal de portugueses, e ficou órfão de pai aos dez anos de idade.
Concluiu em 1855 o curso de Medicina, embora nunca tenha exercido a profissão.
Trabalhou como jornalista, no Correio Mercantil, e como funcionário público, administrador da Tipografia Nacional (antecessora da atual Imprensa Nacional), onde conheceu Machado de Assis, na época um aprendiz de tipógrafo.
Candidatou-se a deputado provincial; mas, ao dirigir-se a Campos em viagem eleitoral, faleceu no naufrágio do vapor Hermes, em 1861.
A principal obra produzida pelo autor foi Memórias de um Sargento de Milícias em 1854-55.


Contexto sócio-histórico retratado na obra Memórias de um Sargento de Milícias
A história se passa no começo do século XIX, ocasião em que a família real portuguesa se refugiou no Brasil. Por isso, o romance tem início com a expressão “Era no tempo do rei”, referindo-se ao rei português dom João VI. Portanto, a história relatada é a da sociedade do Rio de Janeiro dessa época.
Em março de 1808, a corte portuguesa foi instalada no Rio de Janeiro. Era preciso acomodar os novos habitantes e tornar a cidade digna de ser a nova sede do Império português. Duas mil residências foram requisitadas, pregando-se nas portas o "P.R.", que significava "Príncipe Regente", mas que o povo logo traduziu como "Ponha-se na Rua". Prédios públicos, quartéis, igrejas e conventos também foram ocupados. A cidade passou por uma reforma geral: limpeza de ruas, pinturas nas fachadas dos prédios e apreensão de animais.
O Brasil passou a condição de Reino Unido a Portugal e melhorias nas relações com outros países favoreceram o desenvolvimento de manufaturas e da economia interna brasileira. O dinheiro que era taxado em impostos ficava aqui e acabava gerando novos empregos e sendo investido – mesmo que visando ao bem dos portugueses – em instituições e obras no Brasil.
D João adotou várias medidas econômicas que favoreceram o desenvolvimento brasileiro: construção de estradas, reformas em portos, criação do Banco do Brasil e instalação da Junta de Comércio.
Do ponto de vista cultural, D. João trouxe a Missão Artística Francesa para o Brasil, estimulando o desenvolvimento das artes em nosso país. Criou o Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico. Vários cursos foram criados (agricultura, cirurgia, química, desenho técnico, etc) nos estados da Bahia e Rio de Janeiro.
Essas medidas, certamente, contribuíram para a transformação da estrutura da cidade do Rio de Janeiro e aceleraram seu processo de urbanização.
As mudanças provocaram o aumento da população na cidade do Rio de Janeiro, entre os quais muitos eram estrangeiros – portugueses, comerciantes ingleses, corpos diplomáticos – ou mesmo resultado do deslocamento da população interna que procurava novas oportunidades na capital.
As construções passaram a seguir os padrões europeus. A família real portuguesa bancou pequenas obras na nova corte, como a construção de três chafarizes, o prédio da Academia de Belas Artes (que hoje se transformou em um estacionamento), e o primeiro prédio do quartel, atual Palácio Duque de Caxias. D. João também permitiu a abertura de novos loteamentos, o que aumentou o perímetro urbano. Novos elementos também foram incorporados ao mobiliário; espelhos, bibelôs, biombos, papéis de parede, quadros, instrumentos musicais, relógios de parede.
A oferta de mercadorias e serviços diversificou-se. A Rua do Ouvidor, no centro do Rio, recebeu o cabeleireiro da Corte, costureiras francesas, lojas elegantes, joalherias e tabacarias. A novidade mais requintada era os chapéus, luvas, leques, flores artificiais, perfumes e sabonetes.
As mulheres seguindo o estilo francês; usavam vestidos leves e sem armações, com decotes abertos, cintura alta, deixando aparecer os sapatos de saltos baixos. Enquanto os homens usavam casacas com golas altas enfeitadas por lenços coloridos e gravatas de renda, calções até o joelho e meias. Embora apenas uma pequena parte da população usufruísse desses luxos.
Foi uma mudança profunda, mas a grande maioria da população carioca não foi contemplada por todas essas transformações, pois era composta de escravos e trabalhadores assalariados em péssimas condições de trabalho.


Consequências para a urbanização do Rio de Janeiro
Desenvolvimento do sistema de transportes e de saneamento; construção de aterros sanitários; instalação do telégrafo urbano; intensificação dos loteamentos; surgimento de indústrias têxteis.
O bonde funcionou como um modificador de comportamento social e estimulou a circulação pela cidade e o uso dos espaços públicos que se converteram em lugar de diversão.
A cidade do Rio de Janeiro tinha cerca de 700 mil habitantes em 1904. Com exceção de seus palacetes de Botafogo e Laranjeiras, era cortada por ruas estreitas e vielas, onde se erguiam prédios e imensos cortiços. Nos morros, amontoados de barracos formavam as primeiras favelas, em que se encontravam a massa pobre, negra e mestiça – afastada da população elegante, a elite. A insalubridade era alarmente e a condição de vida da maioria da população carioca era terrível.
O transporte animal e a ausência de esgotos mantinham as ruas do centro imundas, mas ao longo da segunda metade do século XIX a Companhia Gary, em 1875, passou a ser responsável pela coleta do lixo domiciliar e das vias públicas.
Durante o governo de Rodrigues Alves (1902-1906), cortiços foram derrubados, dando lugar a belas praças, charmosos jardins, largas avenidas e vistosos palacetes.
O resultado foi a deterioração das condições de vida dos trabalhadores. O preço dos aluguéis subiu, e a população mais pobre foi removida do centro para áreas mais distantes, os morros, levando à proliferação das favelas.


Um pouco sobre a obra Memórias de um Sargento de Milícias
Escrito no período do romantismo, é considerado um “romance de costumes” por retratar a vida e os hábitos da sociedade do Rio de Janeiro no início do século XIX. Essa obra desenvolve pela primeira vez na literatura nacional a figura do malandro.
Memórias de um Sargento de Milícias surgiu como um romance de folhetim, ou seja, em capítulos, publicados semanalmente no jornal Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, entre junho de 1852 e julho de 1853. Os folhetins não indicavam quem era o autor. A história saiu em livro em 1854 (primeiro volume) e 1855 (segundo volume), com autoria creditada a “Um Brasileiro”. O nome de Manuel Antônio de Almeida aparecerá apenas na terceira edição, já póstuma, em 1863.
O protagonista da história é Leonardinho, que foi abandonado pela mãe, que foge para Portugal com um capitão de navio, e é igualmente abandonado pelo pai, mas encontra no padrinho seu protetor.
As aventuras e desventuras de Leonardo, que o autor apresenta aos leitores com dinamismo e humor – por uma linguagem coloquial -, conduzem o protagonista a apuros dos quais ele sempre se salva, graças a seus protetores.
Apesar do título de “memórias”, o romance não é narrado pelo personagem Leonardo, e sim por um narrador onisciente em terceira pessoa, que tece comentários e digressões no desenrolar dos acontecimentos. O termo “memórias” refere-se, então, à evocação de um tempo passado, reconstruído por meio das histórias por que passa o personagem Leonardo.

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